domingo, 3 de junho de 2012

O autoritarismo da “democracia” de esquerda.

Recife 23/01/2012 - Uma imagem que simboliza bem o desapego à democracia no "Brasil Democrático" (foto de André Nery - Folha de Pernambuco)


Truculência policial nem chega a ser novidade no Brasil – ao contrário é até rotina. Mas o mau hábito não deve virar padrão nem ser vulgarizado porque, afinal de contas, as aparências indicam – apesar de tudo – que vivemos sob um regime democrático, no entanto, 2012 iniciou tentando demonstrar o oposto.
As cenas de violência promovidas pelo próprio Estado já são fartas em tão pouco tempo e remetem a uma reflexão sobre o que se passa nos gabinetes dos governantes, que resolveram lançar mão de forma desmedida e indiscriminada da pancadaria e da violência como forma de substituir o diálogo. Os alvos mais destacados e preferenciais das agressões não foram criminosos ameaçadores ou grupos organizados para promover o caos e o terror. Recentemente estudantes contrários a aumentos de passagens de ônibus (em Vitória/ES, Teresina/PI e Recife), universitários no próprio campus e moradores de comunidades precárias como a de Pinheirinho (São José dos Campos/SP) acabaram sob pancadas de cassetetes, sufocados por bombas de “efeito moral” (apesar da imoralidade de serem lançadas sobre que se mobiliza por causas justas) e como alvos das “inofensivas” balas de borracha.
Os policiais (muitos – é verdade – com alguma inclinação psicopática ou certo instinto sádico possivelmente) cumprem seus deveres ao executar ordens de massacrar quem não cometeu crime (não cabe aqui fazer um exercício de especulação moral sobre isso), mas tais ordens partiram de quem ficou bem longe dos conflitos, na espreita.
Aqui em Recife este tipo de ação tem um grau de eficácia muito maior do que a rotina policial para garantir a segurança da população, afinal, é fato reconhecido que a política de segurança pública do governo – o chamado “Pacto pela Vida” – não tem cumprido suas metas.
Os manifestantes reclamavam porque o valor da tarifa de transporte público sofrerá aumento – o que acontece todos os anos, diga-se de passagem. E esta tarifa que sofrerá acréscimo banca um serviço de péssima qualidade (apesar das promessas de solução dos problemas que foram apresentadas nas ocasiões em que foram apresentados os reajustes anteriores). Já temos aí razões de sobre para justificar o descontentamento e os protestos.
Seguindo uma tradição autoritária instituída no Estado Brasileiro, a reação oficial aos protestos foi a truculência totalmente desproporcional ao suposto radicalismo das manifestações. O resultado está fartamente registrado em imagens e em lesões sofridas pelas vítimas.
O que causa espanto é o fato de que a forma de lidar com manifestações democráticas sequer foi assimilada pelo regime democrático no Brasil. A ação é exatamente a mesma e há ainda mais agravantes: as bandeiras vermelhas que tremulavam nos protestos anteriormente agora tremulam nos governos que espancam furiosamente os manifestantes.
O governador “socialista” que espanca estudantes levita em altíssimos índices de popularidade e fantástica estrutura publicitária, governando sem oposição e alimentando até pretensões eleitorais nacionais. Ele trai seus discursos eleitoreiros e cria uma situação que favorece amplamente o despotismo.
Recentemente deputados e ex-deputados estaduais de todas as tendências políticas (incluindo os bastiões da esquerda estadual que agora exercem mandatos federais) receberam retroativamente uma bolada a título de “auxílio moradia” mesmo residindo na capital. Os vereadores recifenses elevaram seus rendimentos em 62% e representantes da “esquerda que se deu bem” fizeram defesas cínicas do benefício concedido em proveito próprio. Não satisfeitos, decidirem em seguida elevar de forma absurda também a verba que recebem para custear combustível em 60,8%. Desta última extravagância aproveitadora acabaram retrocedendo, mas não por crer que o golpe tenha sido indecente, mas por “temer” supostas críticas de caráter “eleitoreiro” ou, em outras palavras, acabaram com medo de perder votos para a tentativa de reeleição este ano.
O aumento de passagem é só um detalhe é só um detalhe neste cenário dominado por abusos, golpes, arbitrariedade e dissimulação política.

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